A
casa assombrada do Lageado
(Piên
– Lageado - 2011)
Esse fato aconteceu há
uns vinte anos atrás no Lageado: Em uma casa morava uma família e
ocorreu que certo dia as coisas dentro dessa casa começaram a se
mexer:
A mulher estava
lavando louça quando o armário abriu uma das portas. Ela viu e
ficou olhando pensando ser algum bicho ali dentro. Como não
aconteceu mais nada, fechou a porta do armário e continuou lavando a
louça. A porta abriu novamente. Quando se virou para olhar dentro,
um copo de vidro saiu voando quase acertando sua testa e se
espatifando na parede do outro lado da cozinha. A mulher saiu
apavorada de dentro de casa e só entrou depois que o marido chegou
do serviço.
Depois daquele dia
todas as coisas de dentro da casa começaram a se mexer. Tampas de
panelas começaram a dançar no meio da cozinha. Quando a dona da
casa colocava feijão para cozinhar, a panela saia pulando do fogão
e caía no chão derramando tudo. Um dia o homem da casa foi se
sentar numa cadeira e ela saiu correndo da cozinha para a sala. O
homem levou tamanho susto que não queria mais entrar dentro da sua
própria casa.
Chamaram um benzedor
muito bom, que corria a sua fama para além do Lageado. Chegando na
casa começou a fazer seus trabalhos de benzedeiro quando, estava
para passar por uma porta, esta se fecha tão rápida e violenta que
acerta em cheio a cara do coitado arrebentando-lhe o nariz. Nunca
mais ele voltou lá!
Outra vez, a mulher
estava para receber em casa um padre muito valente e acostumado com
esse tipo de serviço, e colocava pedriscos num vaso grande para
deixa-lo no canto da sala. Não agüentando mais toda aquela tormenta
por causa dos moveis se quebrando a toda hora, por isso, achou melhor
deixar a sala um pouco mais bonita. Quando estava para terminar, as
pedrinhas simplesmente começaram a sair do vaso como se ele
estivesse transbordando. A diferença era que as pedrinhas não
estavam caindo do vaso e sim rolando para fora dele. Foram tomando
conta de todo o chão da sala. De repente o padre entra e as
pedrinhas que estavam pelo chão, num piscar de olhos, voaram para o
teto e grudaram lá em cima.
O padre pediu que a
mulher se retirasse e começou seu trabalho de exorcismo quando,
todas as pedrinhas voaram no padre grudando nele como sanguessugas,
cobrindo todo seu corpo. O padre começou a gritar por socorro porque
tinha pedrinhas entrando nos seus olhos, ouvidos, boca, na bunda...
Saiu correndo terreiro à fora e despencou numa ribanceira. Lá em
baixo os pedriscos deixaram o pobre homem e ele nunca mais voltou.
E assim tudo o que
tinha dentro da casa se mexia e saía do lugar a qualquer dia e
qualquer hora.
Benzedeiros, padres,
espíritas, bruxos, pastores e uma infinidade de religiosos passaram
por lá, mas o tormento continuava. Um judeu tentou pronunciar uma
leitura e sua moeda que estava no bolso da calça tampou-lhe o gogó.
Um budista japonês tentou recitar uma lei do Buda e acabou engolindo
o livreto. Um indiano tentou queimar uma varinha de incenso, mas saiu
tanta fumaça daquela varinha que quase matou a ele e toda a família
asfixiados.
Já se ia quase seis
meses, quando um velhinho de 88 anos atravessa a rua e se põe a
olhar para dentro da casa. Como o velho não chamava ninguém, foram
lá ver o que ele tanto olhava. Então contou para a família a
seguinte história:
- Muito antes de vocês
virem morar nessa casa, havia um homem cruel por demais que, cada
vez que resolvia educar um filho, acabava por tirar-lhe a vida de
tanto bater. A mulher não conseguia defender os filhos. Sempre
acabava apanhando também. Naquele tempo o lugar era de mata virgem.
Até os índios não queriam saber do homem. A mulher teve 12 filhos.
Ele matou 11. A mulher vendo que mais dias, menos dias seu caçula
logo levaria a surra de morte, fugiu e nunca mais foi vista por
ninguém, nem pelos índios da mata. Mas o homem cruel ficou ali até
morrer. E foi enterrado no fundo do seu quintal junto com os outros
11 que ele tinha espancado até a morte.
Perguntaram ao Ancião
como fariam para se livrar dos espíritos das crianças e do homem
que assombrava a casa. O velho respondeu que não tinha nada a ver
com aquela gente enterrada, e sim com os espíritos malignos que por
causa do acontecido, e por causa do cervo do “coisa ruim” (que
era o pai cruel), eles estavam ali para confundir e acabar com toda a
família plantando discórdia, pancadaria e medo. Então, antes de se
despedir, o velho deixou uma receitinha:
- Contra essa corja de
demônios vocês têm que pedir somente a Deus. Rezar somente a Deus.
Não pode ser nem ter pessoas diferentes na casa. Somente a família.
Reúnam-se sempre no lugar mais sagrado da casa que é a mesa da
ceia. Ajoelhem como se estivessem diante Dele. Falem em voz alta como
se fosse no ouvido Dele.
O velho sábio foi
embora e a família pôs em prática todos os dias tudo o que ele
dissera. No cabo de uma semana a casa estava livre, leve e serena
como um templo.
Eber