domingo, 8 de maio de 2011

Amiguinhos Invisíveis


(Aqui no Cerro Verde tem meu vizinho que passo por um apuro danado com esse nigócio de amigo invisíver. Ele não gosta muito de comentá o caso, só que nóis samo muito achegado e porisso não fais conta de eu contá pra arguém, é só num falá o nome dele, “já digo!”)
Assim seu Zé principiou contando o ocorrido que acometeu seu vizinho de lote, distante mais ou menos quatrocentos metros da sua casa. É que os terrenos daqui são bem grandes, se bem que agora está tudo repartido, tanto o lote do seu Zé como o do vizinho, sendo que o vizinho já nem mora mais no lugar.
O vizinho vivia se mordendo de raiva por que seus filhos estavam com uma mania de falarem sozinhos pelos cantos da casa. Isso irritava o velho de tal maneira que sua vontade era de socar os filhos para que calassem a boca, mas quando mandava um ficar quieto outro lá estava em seu canto falando e conversando animadamente. Ele corria repreender esse quando o terceiro já se encontrava na maior alegria rindo, matracando e até discutindo. Isso o irritava tanto que não se agüentava e saia de casa esbravejando de raiva.
Sua mulher tentava amenizar as coisas falando que criança é assim mesmo, brinca imaginando coisas...
Um dia o homem viu que os três meninos estavam numa discução calorosa debaixo de uma macieira e a ponto de se grudarem um no pescoço do outro. Só que o pai olhando de longe teve uma impressão, quando chegou mais perto percebeu que as crianças brigavam com a árvore. Tentou forçar a vista para ver se via alguém atrás do tronco ou em cima da macieira mas não conseguiu visualizar ninguém. Será que tem alguém escondido na árvore colocando besteira na cabeça dessas crianças? Pensou.
Esperou até o final do entardecer escondido atrás duma pedra quando as crianças atenderam o chamado da mãe para entrarem pra dentro de casa. Armou-se de um pedaço de pau e se aproximou cuidando de todos os lados para ver se via alguém sair correndo, só que não viu nada nem ninguém. Olhou para cima da copa da árvore e também não viu nada, então, resolveu passar umas horas por ali.
Subiu na macieira e se acomodou em um de seus galhos, puxou a gola do jaquetão e se pôs a espreitar o terreno em volta para ver se não surpreendia alguém escondido furtivamente por ali. Notou que seu galho se inclinava devagarzinho cada vez mais para baixo e tratou de arrumar mais para perto do tronco onde todo galho é mais grosso, qual foi sua surpresa, o galho continuava inclinando cada vez mais. Uma ponta de dúvida e medo gelado lhe correu a espinha!
Como o galho parou de inclinar tratou de passar para o galho de cima que era um pouco mais grosso que aquele. Acomodou-se. Não demorou dois minutos e seu galho começa a inclinar para baixo novamente. Não teve dúvidas, berrou donde estava:
- Quem está aí? Se for coisa ruim vá embora e deixa meus meninos em paz!
Nem havia terminado de falar quando o galho da frente estala acertando seu rosto em cheio, desequilibra tentando se proteger e cai pro galho de baixo, este sacode violentamente virando-o de barriga pra baixo. Como que se aproveitando da situação, um punhado de varas lhe arremete a bunda dando-lhe uma sova que jamais tomara em toda sua vida. Caiu da macieira aos berros e entrou pra dentro de casa segurando as nadegas em flor de vergões, pois a cada varada rasgava-lhe a calças. Esbravejando toda sorte de palavrões e no mesmo fervor chamando tudo quanto é santo disparou quarto adentro acompanhado pela mulher para lhe cuidar as feridas.
Noutro dia sua mulher ficou sabendo pela boca das vizinhas que uma bruxa muito famosa andava faceira pela sede do Piên fazendo compras. A tal até macumba contra lobisomem sabia fazer, quem sabe não resolvia esse problema também? Seu nome era Grena Matados do Lageado dos Mortos.
Então o pai das crianças pegou uma charrete e foi pro centro ver se encontrava a mulher, qual foi sua surpresa, ela já estava a sua espera na esquina dos Tabordas.
Chegando em casa, dona Grena Matados foi logo interrogando as crianças, o que achou o maior absurdo o pai delas, mas as crianças foram categóricas em responder todas as questões e ainda informar que quando brigavam com os amiguinhos invisíveis era por causa do pai, que sendo muito rude e ruim com a família, eles queriam divertir-se um pouquinho com ele. O homem petrificou de medo!
Dona Grena Matados foi sozinha até a macieira e deu início a uma reza braba, depois chamou anjos, arcanjos e outras entidades para ajudar a colher os espíritos e encerrou tampando todos num potinho de vime com tampa de desenho esquisito. Quando voltou falou com cara feia pro homem da casa que se ele não mudasse de atitude com sua família, não haveria reza braba que o livrasse da próxima vez.
O homem mudou de atitudes grosseiras para a de um pai amoroso, o tempo passou, os meninos cresceram e até hoje os amiguinhos invisíveis deles não mais apareceram.

Eber